quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Olá! Como Posso te Ajudar?

Desde que me entendo por gente, sempre fui aquele ser humano das ideias mirabolantes. Podiam ser ideias para achar soluções para algo simples até as mais complexas questões filosóficas da vida. O lance sempre foi ter ideias e o mais importante, executá-las. Nunca percebi que isso era uma expertise, um dom. Para mim ter ideias, pensar formas criativas de executar qualquer coisa e, achar soluções sempre foi algo tão natural para mim que não via como algo que poderia ensinar a alguém, afinal pensava “todo mundo tem isso, não é?”.


O fato é que ao contrário do que pensava, muita gente tem dificuldade em ter ideias novas ou criativas, ou ao contrário, não ter aquele ímpeto de botar a mão na massa. Eu vejo muita gente com tanto potencial desperdiçando seus talentos pelas mais diversas questões. Autossabotagem, não acreditar que vai dar certo, autoestima baixa, não ter aprovação dos outros, falta de fé ou puramente preguiça. Eu fico simplesmente desesperada quando me deparo com situações assim, quero logo chegar e falar “ei, tira a bunda da cadeira e bora fazer acontecer!!”.

Tá bom, não vou mentir. Eu também já me sabotei com relação aos meus talentos. Na verdade, me encontro neste exato momento em que estou colocando para acontecer o que deveria estar fazendo, na verdade continuando a fazer na vida, que é a escrita. A vida inteira, mesmo, desde que aprendi a escrever, eu criei histórias e mais histórias. E que não ficavam somente presas a contos, mas faziam parte de brincadeiras, peças de teatro, curta-metragens, poesias.... Onde tinha um lugar para me expressar criativamente através de histórias, lá estava eu. Em praticamente tudo que fiz, seja vida profissional ou pessoal, este meu lado criativo-contador-de-histórias estava presente. Isso ficou muito claro quando este ano uma amiga me apresentou um teste para descobrir o que me faz brilhar na vida e porque estava me sabotando neste processo de colocar para o mundo o meu verdadeiro eu. Profundíssimo!!! Este teste mudou a minha vida e continua a mudar. Me dando tapas e mais tapas a cada santo dia. Pesado, mas necessário.

Então, eu acredito, quer dizer, tenho certeza, que todos, mas todos nós temos talentos, expertises, habilidades, brilhantismo para expor mundo afora. Reconhecer isso dentro de nós é o mais difícil. Bancar isso para si então, ui complicado. Mas vou te dizer, libertador. Não sei como posso ensinar isso 100% a alguém, mas com certeza só o fato de compartilhar um pouquinho a minha experiência pode ser uma forma de ajudar. Mas se precisar de um empurrão estamos aí, é só chamar!

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Que Dilema?

Quando comecei a escutar todo o burburinho sobre o documentário “Dilemas da Rede” (Social Dilema) e de repente vi amigos dando adeus a redes sociais como Instagram e justificando sua saída por conta do que foi exposto no filme, resolvi assisti-lo também. Já tinha visto que o documentário tinha entrado na Netflix e mais ou menos me chamou a atenção, porém tinha ficado apenas como um ticado para a minha lista de futuros. Explico os porquês.

Tem um troço que tenho certo pavor. Teoria da conspiração. Morando aqui nos EUA sei que a maioria dos americanos acreditam nas mais diversas teorias da conspiração. Variadas pesquisas já mostraram números que dizem por exemplo, 1/3 da população americana acredita em alguma teoria doida sobre o Coronavírus. Já vi pesquisas dizendo que mais de 70% dos americanos acredita em alguma teoria que vai desde que o homem não pisou na lua, Elvis não morreu ou que a Terra é plana. Ui! Esse lance de teoria me irrita tanto, mas tanto que tudo que soa à conspiração eu não quero nem ver ou ouvir. Dá coceira!



A segunda barreira de não querer assistir o “Dilemas da Rede” foi com relação às próprias redes sociais. Essa pessoa que vos escreve começou nas redes sociais nos tempos de Orkut. Não passei pelo MySpace e não tive muito contato com Flickr ou Twitter, apesar de que flertei por essas bandas rapidamente. Desde o começo do meu contato com as redes sociais, sempre achei fascinante uma coisa: o poder da comunicação e como poder se expressar de alguma forma para várias pessoas de maneira mais aberta, diferente do e-mail.

Essa paixão, se posso descrever assim, por essas plataformas foi crescendo e acabei abrindo uma agência de conteúdo online nos primórdios do Facebook, quando marcas começaram a usar a rede social para promover seus produtos e serviços, mesmo ainda sem a existência das páginas profissionais na plataforma. Explorar essas ferramentas e o que elas podiam nos dar de volta com relação à estrutura sempre foi fascinante. E a cada ano, ou até mesmo a cada mês, elas se atualizavam, inventam novos recursos. Quando o Facebook ficava meio lento e surgiam alguns bugs eu já dizia para a minha equipe “lá vem mudança do Mark”.

Quando falo assim, de forma tão poética e nostálgica, não estou sendo inocente com relação às redes sociais e seu lado comercial. Não mesmo! Sei que para uma plataforma sobreviver como um produto, é necessário dinheiro. Óbvio! Mas penso também que um pequeno negócio que não tem rios de orçamento para investir em um site ou plataformas de CRM etc., pode abrir uma conta no Instagram para vender seus produtos. Isso inclui. Um jovem morador de favela pode ter um espaço para vociferar o que está acontecendo dentro da sua comunidade e criar seu próprio meio de comunicação. Isso inclui. Você pode criar um movimento que começa local e ganha proporções globais, ajudando outras pessoas. Isso inclui.

Então, o que me incomodava – isso antes de assistir o documentário – era pensar nessa martirização das redes sociais como sendo apenas um celeiro de inveja, competividade, depressão, ansiedade, brigas e rachas. Incluindo neste bolo uma manipulação da sua mente, um impulsionamento exagerado do consumo, a criação de bolhas de um só pensamento. Claro que tudo isso existe sim dentro das redes sociais. E existe um processo que culmina no “compre meu produto mesmo você não precisando”. Negar isso tudo é inocência, de fato! Mas o documentário que entrevista vários personagens-chave no processo de criação de tecnologias viciantes exagera neste lado sombrio.

Concordo que o uso de redes sociais por crianças e pré-adolescentes não é legal. O mesmo que muita TV e telas no geral. Concordo que o mundo fantástico de todos aparentando serem felizes o tempo todo, que o uso de filtros para afinar o rosto, melhorar a pele e tirar olheiras é too much e pode gerar sentimentos de inferioridade e inadequação. Que a manipulação de imagens e criação de fake news é um problemão. Concordo que deve ter um melhor monitoramento e leis que ajudem a reduzir essas questões e que tudo isso seja debatido. Mas isso revela como somos como sociedade. O nosso lado sombrio da força. E cá entre nós, sempre tivemos um pé lá e um pé cá. “Onde vamos parar?” muitos dizem. Não acredito que estamos piorando. Volte para a Idade Média e veja o quanto evoluímos como sociedade. Tudo bem, não precisa ir tão longe. Volte aos anos 1950 e veja como evoluímos.

Não vejo as redes sociais como apenas ferramentas demoníacas ávidas a nos fazerem escravos e meras mercadorias de troca. Não mesmo. Pode ser um lado meio Pollyanna meu? Pode ser. Mas acredito que essas avaliações sobre as redes sociais deveriam nos fazer refletir mais sobre as nossas conquistas como sociedade e aí sim, avaliar o que podemos fazer para melhorar ainda mais, combater o que está em desequilíbrio e sim, viver mais a vida no modo geral, fora da tela e também porque não, postar vídeos de gatos fofos, compartilhar aquela torta maravilhosa que você comeu ou uma selfie linda que só você consegue tirar do seu melhor ângulo. Isso tudo junto e misturado, sem dilemas. Curtiu?

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Onde estará Suzana?

Sempre pensei em escrever sobre Suzana. Sempre quis compartilhar com o mundo o que uma amiga que nunca mais vi ou soube de sua vida, me ensinou sobre liberdade, sobre ser você mesma e de vibrar com a vida. Estranho pensar que Suzana me ensinou isso tudo quando ela tinha seus 11 anos de idade e eu por volta dos meus 9. Ela foi a irmã mais velha que não tive. Aquela que compartilha seus ensinamentos de “vida” por estar uns anos à frente. O mais interessante é que Suzana me ensinou sim tudo isso, mas será que ela sabe que teve esse papel importante em minha vida?

Onde estará Suzana

Muito magrinha, sardenta e ruiva, ela era um mistério. Eu sabia muito do seu íntimo, do que pensava, do que gostaria de fazer e vivenciar, mas não sabia muito da sua vida, das confusões familiares. Suzana morava em frente ao meu prédio em uma vila em Botafogo. Aquele tipo de vila que todo mundo se conhece, sabe da vida do outro ou pelo menos das fofocas. Como criança morando lá eu sempre escutava uma história aqui e acolá e tentava dentro da minha lógica 
imatura, colocar os fatos e fuxicos em alguma ordem que fizesse sentido. 

Ela morava com a avó. Uma senhora que tinha uma voz estridente, que gritava “Suzaaanaaa” bem alto quando ela aprontava alguma (que não eram poucas) e a vila inteira sabia que Suzana estava a ponto de levar uma coça. Além da avó, também morava na casa uma empregada. Naquele antigo e extremamente louco sistema de quartinho dos fundos, que na década de 1980 era “comum”. A empregada de sua avó era o que a Suzana foi para mim, a irmã mais velha. Dava conselhos, levava a Suzana para tudo quanto lugar e a Suzana vivia em seu quarto, vendo TV e tomando Coca-Cola.

Mas apesar de ter falado que ela morava com a avó, na verdade Suzana passava o dia inteiro lá, fazia as refeições e tinha até um quarto com suas roupas e alguns objetos pessoais, mas ela dormia na casa do pai que ficava no prédio ao lado do prédio de sua avó. Seu pai era praticamente da idade da avó. Era magrinho como Suzana e me lembro que fumava muito, vivia carregando pacotes de cigarro que vez ou outra Suzana roubava. Ele era um homem de poucas palavras. Aliás, não tenho nenhuma memória de ter ouvido a sua voz. Eu dormi uma ou duas vezes lá. Era um quarto-sala, bem masculino, mas até que não era bagunçado. Tinha um sofá-cama. E me lembro de ouvir em uma vez dormindo lá as explosões da obra do metrô no lugar de uma vila antiga. Aquela estação nunca saiu do papel na verdade. Coisas da corrupção do Rio. Também me recordo de duas coisas que me chamavam atenção na casa do pai da Suzana. Ele guardava dinheiro em uma caixa de isopor de Big Mac e na sala tinha um Atari, que jogávamos Pac Mac sem parar.

Ela também tinha um irmão bem mais velho. Já casado e com um bebê. Morava ali perto, cheguei a ir em seu apartamento algumas vezes e lembro dos móveis tipo TokStok anos 1980. Algo que só quem viveu essa época vai entender. Eram módulos que abriam em camas. O seu irmão era meio duro com ela. Ela aprontava muito e deixava a avó descabelada. Confesso que era engraçado. A sua avó era muito brava. Tinha uma vizinha de frente da sua avó que tinha um Chihuahua que latia horrores. Eu sempre achava esse cachorro igual a avó de Suzana.

Ninguém falava de sua mãe. Nem Suzana. Acredito que tinha uma foto dela no quarto em que Suzana ficava na avó. Não sei o que aconteceu. Se fugiu. Se abandonou os filhos. Se morreu. Ou enlouqueceu. Mas não se falava dela.

Tudo em sua vida era um misto de mistério, loucura, uma vontade enorme de viver, vivenciar, experimentar e ao mesmo tempo, Suzana, que tinha apenas 11 anos e se achava adolescente, tinha no banheiro que ficava no quarto de sua avó, praticamente um depósito de bonecas. Uma vez ela me mostrou esse acervo e eu não acreditei. Eu era criança ainda, né? Aquilo era incrível! Todas as bonecas e acessórios que você pudesse imaginar! Uma vez pegamos algumas dessas bonecas, e carrinhos de bebê para elas e fomos brincar em frente ao meu prédio. Eis que passam alguns meninos da idade da Suzana e ela imediatamente empurrou tudo para mim. “Não sou quem está brincando de bonecas”, era o que ela quis dizer. Eu respeitei. Afinal, era um segredo nosso.

Mas fora esses momentos de querer brincar de boneca, Suzana tinha um sonho louco de virar adulta. Seu maior desejo era menstruar. Ela era tão aficionada com isso que uma vez uma amiga dela dormiu na casa da sua avó e quando passei lá para visitar, estavam as duas meninas com os pés em uma bacia de água quente e avó com a cara desconcertada. Quando ela foi à cozinha, as duas começaram a rir pelos cotovelos. Disseram que tinham fingido ter menstruado. Tinha manchado um absorvente com merthiolate e mostrado para a avó que ficou tão desesperada, que botou as meninas com os pés na água quente. No mesmo dia a sua avó descobriu a trama da menstruação falsa e lá foi a vila inteira escutar “Suzaaaanaaaa!”. Ficou de castigo por vários dias!

Suzana estudava em uma escola católica, acho que seu nome era Sagrado Coração de Maria. Fui várias vezes em sua escola. Tinhas colunas grossas, um pátio aberto e lindo. Parecia saído da antiguidade. Eu ansiava em estudar em um colégio assim. Com freiras, restrições e uniforme. O meu era tido como escola alternativa. Só tínhamos uma blusa como uniforme e podiam ser de diferentes cores. Zero regra. É claro que Suzana queria estudar em um colégio igual ao meu. Muitas vezes Suzana foi suspensa. Acredito que chegou a ser ou quase expulsa. 

Mas tinha amigos lá, aliás muitos casinhos. Suzana fazia muitas festas em sua casa. Sempre tinha a supervisão da avó e da empregada. Mas uma vez que a avó virava as costas...ela aprontava. Fui em algumas dessas festas. Tinha música, luz e fumaça. Acho era que seu aniversário. Só sei que voltei para casa impressionada. Foi a primeira vez que participei de um “verdade e consequência”. Claro, que era muita nova e mais olhava do que participava, mas aquilo tudo era tão incrível e tão diferente que mesmo sendo mais inocente, achava o máximo o que a minha “irmã” mais velha fazia.

Quando tinha festinha em minha casa, ela comia brigadeiros, bebia Coca-Cola - ela era viciada no refrigerante que tomava até no café da manhã – mas ficava mais reservada, de bate-papo com a Cida, a nossa empregada que viveu conosco por 30 anos, minha segunda mãe e que na época era jovem e Suzana gostava de conversar com ela. Lembro uma vez que a minha mãe deu uma bronca na Suzana lá em casa ou me falou que não devia brincar com ela na frente dela. Não me recordo ao certo.

Uma vez um menino que perambulava pelas ruas com outro menino, ficou louco com a Suzana. Não sei te dizer se ele realmente morava na rua ou em alguma favela por perto, mas lembro que ele nos seguiu até a porta do prédio da Suzana e alguns dias depois ela veio me pedir um favor. Ela disse que ele passaria lá mais tarde, já à noite, junto com o amigo e que ela ia colocar uma camisola longa e branca, levemente transparente e eu seria a responsável por abrir a cortina do seu quarto para eles poderem assistir a Suzana de costas com essa camisola, como se fosse em um peep-show meio burlesco. Fiz o abrir das cortinas e a cara dos dois meninos com os queixos caídos literalmente, foi impagável. 


Onde estará Suzana


Se você está pensando que ela era muito nova para aprontar isso e aquilo ou até mesmo achar vulgar o que Suzana fazia, eu até hoje acho Suzana uma revolucionária. Isso tudo sem ela saber que era. Ela tinha essa ânsia de virar adulta, de gargalhar, de fazer as coisas que era tolhida o tempo todo. É o famoso joie de vivre. Nunca vi nada tão igual e intenso.

Ela quem me ensinou coisas bobas e que parecem sem utilidades, mas que na verdade foram ensinamentos profundos de vida. Quando ela comprava roupa nova, ela dizia que para ver se a roupa ia ficar boa, era para vesti-la e dançar na frente do espelho. “Só assim dá ver como a roupa fica no corpo!”. Ela que me ensinou a usar canga amarrada na praia, isso em uma época que ninguém usava canga ainda. Nem era canga, mas um grande lenço. Foi a Suzana que me ensinou a gostar da madrugada e seus programas trash da época que a gente assistia tomando Coca-Cola e comendo bombom Garoto. Foi com ela que assisti ao filme Ele, O Boto. Sim, não era para a minha idade, na época 10 anos, mas vi o Carlos Alberto Riccelli‎ e fiquei com aquela paixão platônica. Suzana também. Neste dia inclusive, ficamos presas em uma cabine do banheiro do cinema, e tivemos que escalar a sua porta. Só podia ter acontecido com ela! E foi
também com a Suzana e sua fiel escudeira, a sua empregada, que fomos em uma matinê na boate Help em Copacabana. Também criamos, em um dos seus momentos “brincadeiras infantis que ninguém sabia”, uma peça de teatro e fomos vender ingresso na rua. Vendemos para uma senhora e sua filha, que foram de fato assistir. Isso tudo na sala da casa da avó. Ela amava Kid Abelha e cantava alto suas músicas que botava para tocar na vitrola. Sim, coisas bobas você deve estar pensando, mas intensas e inesquecíveis. 

Depois de 2-3 anos ao seu lado, eis que a minha família compra um apartamento maior e em Laranjeiras. Deixamos a vila de Botafogo e com a saída, os meus encontros com a Suzana foram espaçando. Não tinha esse negócio de se falar o tempo todo. Não tinha celular, não tinha internet. A última vez que a vi, ela foi me visitar depois da escola. Suzana tinha mudado de colégio e este ficava no Catete, perto da minha casa. Colégio de padre que também cheguei a ir em algumas festas juninas com ela e lembro que estava não indo muito bem na escola.

Nunca mais ouvi falar de Suzana. Eu também fui entrando na adolescência, fazendo novas amizades e vivenciando outras coisas que aquele mundo da vila parecia não caber mais na minha vida. Na época cheguei a ouvir que ela tinha conhecido um traficante e que tinha ido morar na favela. Ouvi dizer que engravidou também. Enfim, acho que nunca vou saber seu destino e se conseguiu experimentar e viver a vida como gostava. Sempre penso como seria a Suzana dos dias de hoje em seus quase 50 anos de idade. Como ficaram seus laços com a família? Assim como a sua vida misteriosa, o seu desaparecimento em minha vida também é cercado de perguntas. Não tenho seu sobrenome. Não tenho contato com ninguém que possa saber de sua vida. Onde estará? O que aconteceu com a sua vontade de viver. 

Suzana tinha apenas 11 anos de idade, mas parecia uma mulher cheia de experiências, vivida, praticamente uma adulta. Ela flertava com esse desejo constantemente. Virar adulta. Na cabeça dela o ato de menstruar era algo libertador, de abrir as portas da vida adulta que tanto ansiava. Neste último dia em que a vi quando foi me visitar no auge dos seus 14 anos, ao sair do meu apartamento estávamos eu e a Cida na porta esperando ela entrar no elevador que ficava em um longo corredor. Quando ela se distanciou um pouco da porta da minha casa, de repente ela virou de frente para a gente e abriu o zíper da sua calça jeans e baixou rapidamente a calcinha para mostrar o absorvente gritando: “Olha aqui ó! Eu menstruei!”.


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Pai

 

Ainda acho muito estranho escrever algo sobre meu amado pai que se foi em 2015. Até porque tenho constantes sonhos em que ele aparece vivo e sempre tem alguém que chega e fala “ué, mas ele está vivo?” e assim aparecem diversas versões para explicar o porquê ele está vivo. “Não, ele não morreu!”, dizem uns. “Sim, ele morreu, mas conseguiu voltar a viver”. Apesar de serem sonhos, sempre acordo com a sensação de que na verdade ele está aqui, sua presença está em cada lembrança, cada memória, cada história que alguém conta.

Hoje é o seu aniversário e quis deixar registrado este texto para ele em forma de comemoração da sua vida que ainda perpetua entre nós. “Deixa de bobagem, para quê celebração para mim?”, afinal de contas, meu pai não gostava de comemorar seu aniversário. Mas no fundo, no fundo, a gente sempre comemorava e ele, amava! Então pai, estou aqui celebrando com você mesmo sabendo que você nem ligaria para isso tudo, mas que depois estaria com um sorriso de orelha a orelha, dizendo “não precisava”.

Papai sempre foi o pai “jovem”, não por conta da idade, mas tinha a alma jovem. Meus amigos sempre o achavam divertido, engraçado, diferente, músico né? Já tive aquela fase estranha em que tinha vergonha por ele ser diferente de outros pais, e logo depois dessa fase passar, eu que sentia vergonha de ter pensado assim, afinal, era o meu pai que era bacana, e os outros? Ah outros eram muito sérios.

Foi meu pai, apesar de ele dizer como sempre “que besteira...”, que me ensinou a correr atrás dos meus sonhos, de trabalhar duro, de ser sincera, honesta e acima de tudo, fazer o que se gosta. Ele me deu toques importantes que na verdade nem se tocou que foram tão importantes, tudo sempre por conta do seu jeito suave e às vezes em contrapartida, meio ríspido, mas que era no final das contas, pura doçura.



Foi ele também que me ensinou a amar música, arte, cultura de um modo geral. Até novela, a gente discutia como assunto sério. Trocávamos ideias de filmes, seriados, livros e claro, ele me enchia de vídeos e coisas engraçadas e curiosas da internet. Foi ele que me disse uns anos atrás que na hora na turbulência durante o voo era bom para dormir, e depois de mais de 30 anos com pânico de avião, eu adoro uma sacudida para dormir o voo inteiro.

Mas acima de tudo, meu pai me ensinou a ter humor, a gostar de refletir sobre as coisas da vida, profundas ou simplesmente coisas do dia a dia e o melhor de tudo, a gosta de escrever, que acabou virando minha profissão por tanto tempo. A única coisa que não consegui aprender 100% foi a ser mais leve, a relevar as coisas um pouco mais. Tudo bem que às vezes ele tinha também um lado meio difícil, duro, mas como disse, foi adoçando com os anos e que no final tudo era justiçado com “ah que besteira, esquece isso”.


Pai, a saudade aperta, dói, mas tive a sorte de ter sido escolhida para ser sua filha, a sorte de ganhar um apelido criado por você, a sorte de ter recebido seu abraço, seu apoio, a sua ajuda em diversos momentos da minha vida. E obrigada por ter vindo me visitar nos Estados Unidos quase 2 meses antes de você partir, quando a gente olha para trás e vê esses sinais, mal acredita como a vida pode ser tão surpreendente. Obrigada, obrigada, obrigada! Te amo para sempre, sua Pipa!

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Você conhece todas as formas de amar? – Parte 2

Meio-dia ele vem até mim como se dissesse “estou pronto para o meu cochilo”. A partir dessa hora depois de um momento de energia extra ele começa a acalmar o facho. Então eu o carrego em meus braços como um bebê e vou até a cozinha, onde a sua casinha fica perto, e pego a sua escova. No meu colo ele começa a relaxar ainda mais e a dar umas respiradas que são ao mesmo engraçadas e cheias de ternura. Fecha os olhinhos quando eu começo a escovar seu pelo macio e chega a levantar o pescoço para eu continuar com esse ritual diário que o leva até o sono profundo em minutos. Nesta hora, seu corpo está junto ao meu e sinto as batidas do seu coração junto ao meu peito e mesmo que não sejamos do mesmo reino animal, tenho certeza absoluta de que ele é meu filho. 

Hercules, ou já conhecido como Herkey e mais outros 20 apelidos que dei para ele, é um vira-lata Shichon. Aqui nos Estados Unidos essa mistura de Shih Tzu e Bichon Frise é chamada de “Teddy Bear” ou ursinho de pelúcia. Ou seja, fofo em ultíssimo grau.




Em 2007 eu fiz um texto em que refletia sobre essa pergunta você conhece todas as formas de amar?” e nele compartilhava até então a minha única e curta experiência convivendo com um cachorro que cuidei por 2 semanas. Como menciono no texto, eu nunca tive contato com nenhum ser peludo a minha vida inteira. Lambidas e puladas de alegria em cima de mim eram sinônimos de “socorro, alguém me ajuda, tira esse monstrinho daqui”. Mas no auge dos meus 42 anos, beirando os 43, eu trouxe para casa o meu primeiro cachorro da vida e que mudou meu modo de enxergar o amor, ainda de forma mais profunda do que em 2007.

A ideia de ter um cachorro obviamente não foi minha. Desde que me casei e mudei de mala e cuia para a América do Norte e dos cachorros (sim, americanos são loucos por cachorros), os meus enteados pediam por um cachorro, em especial a caçula. Apesar de morar em casa, o nosso quintal é aberto, sem cerca e como alugamos não há nem de longe a possibilidade de cercá-la. Então, como ter um cachorro em casa 80% encarpetada, logo eu a rainha das alergias? Inverno então, como fazer? Cachorro nem pensar!

Mas chegou-se a um ponto que a insistência virou a única bandeira da minha enteada e a pressão agora já envolvia outros escalões da família, significando que o meu marido estava no time do vamos ter um cachorro. Mas a decisão final seria de quem? Minha!

Alergia, casa, paciência e o maior problema de todos, responsabilidade de cuidar do ser peludo. Para mim eram só barreiras e para cada uma a minha enteada tinha uma solução, é claro. Criou inclusive um manifesto em que colocava 100% a responsabilidade de alimentar, passear, dar banho, brincar, etc, para si.

Obviamente não acreditei na história dos 100% de responsabilidade, sabia que ia sobrar para mim já que trabalho de casa, cozinho, cuido da casa com primor e odeio bagunça. Tudo que um cachorro atrapalharia a minha rotina. Mas cedi!

Pegamos o Herkey em uma cidade há duas horas de casa. Ele era muito peludo, mas segundo o Google essa mistura era hipoalergênica a não soltava pelo, por isso a decisão pelo ursinho de pelúcia. Porém, ele estava há 3 meses de vida convivendo com outros Shichons e estava fedido de xixi, sendo que urina de cachorro para quem é alérgico é batata. Pronto, duas horas de volta para casa tive que parar para comprar um antialérgico porque já tinha além de espirros, olhos lacrimejando, placas pelo pescoço. Mas além da alergia, estranhamente já tinha outro sintoma, um amor incondicional por esse ser cheirando à urina.

A alergia foi piorando conforme ele foi se aclimando aqui em casa. Éramos eu e ele nos adaptando. O curioso é que ele também é um cachorro tido a alergias. Vai saber as conexões da vida...

Acabou que quem estava com ele na maioria do tempo? Eu. Os 100% de responsabilidade foram literalmente transferidos para mim. OK, vamos ser justos, 80%. O restante do “leva ele para fazer xixi”, “limpa o cocô”, foram distribuídos pelas crianças a muito custo e a ameaças de “você não queria um cachorro?”. Mais tarde o meu marido compartilhou essa minha percentagem de cuidados com o Herkey.

No meio dessa adaptação de todos, em especial a alergia que parecia estar indo embora, veio a pandemia do COVID-19. Isso significou que além de mim, que já ficava em casa mais do que todos, agora a casa estava cheia o tempo todo também. Quem amou essa história? Ele é claro! 

A convivência com o Herkey foi intensificada e o amor que ia aos poucos se construindo foi não somente ajudando a acabar com a minha alergia, mas também me deixando mais manteiga derretida. Não posso mais ver uma matéria sobre um cachorro que sofreu abuso, que não tem uma perna ou que foi abandonado, para chorar litros. 





Não, eu não era assim antes. Não que fosse insensível, mas não conseguia compreender por completo esse amor por bichos. Julgava quem só compartilhava foto do cachorro em redes sociais e gastava comprando brinquedos para seus filhos de quatro patas. Hoje me vejo fazendo o mesmo, talvez até um pouco mais do que o normal e sofrendo quando tive que deixá-lo em um hotel de cachorro por quase uma semana. Ligava para lá todo santo dia. “Que mãe mala”, deviam falar. Mas não estou nem aí para o que acham da minha pieguice canina. 

São os nossos momentos rituais de meio-dia que me enchem de amor e alegria. São os períodos em que estou focada trabalhando e ele aparece pedindo carinho que me derretem. Se eu conheço todas as formas de amar? Talvez não. Mas esse amor, ah esse amor, transforma.



quinta-feira, 30 de julho de 2020

Sincero Pedido de Desculpas

Já ouvi falar por aí que tenho um arsenal de histórias fantásticas e engraçadas do tipo “só acontece com a Rita”. Uma dessas histórias faz a graça para muitas pessoas que chegam a pedir para contar só mais uma vez, como crianças ensandecidas que pedem para que você leia aquele livro de novo.

Essa história é engraçada, trágica e envolve um certo nível de bullying, auto bullying diria. Gostaria muito de poder encontrar a pessoa envolvida nesta trama e olhar fundo em seus olhos e dizer “você me perdoa?”. Talvez essa culpa que carrego dentro de mim deste fatídico acontecimento aos 7 anos de idade possa ter gerado certas crenças limitantes em minha vida. Talvez.

Mas o fato é que nunca tive a oportunidade de olhar a situação com essa profundidade e muito menos assumir uma certa responsabilidade. Claro que estamos falando de uma criança, a ficha caiu muitos anos depois.

O ano era 1984. Auge da década dos exageros, do gel colorido no cabelo, da pochete que voltou com tudo na primeira década de 2000. Época também de ver Xuxa entrando na nave, dos pais não usarem cinto de segurança e todos fumavam cigarro, em todos os lugares.

A professora de ciências havia criado uma apresentação para a minha turma fazer. Mas não uma apresentação qualquer. Era para a escola, para os pais. Grande, coisa grande! Estávamos aprendendo sobre o sistema solar e os seus planetas. E ela designou alguns alunos para representar cada um dos planetas, o sol e a lua.



Quando recebi o meu papel na hora a professora disse que eu tinha que preparar o meu figurino e a minha cor seria uma das cores associadas ao Urano, verde. Eu tinha que decorar a minha fala, algo do tipo “olá, sou Urano e tenho 27 satélites naturais...” e então rodopiar pelo sistema solar desenhado no chão. Mas o que mais me deixava animada era o tal do figurino e a cor verde, que combinaria com meus olhos.

Voltei para casa e contei animadíssima para a minha mãe. Sabia que ela ia me ajudar a escolher o mais representativo e criativo figurino, porque ela é atriz e tinha muitas ideias legais para as nossas caseiras perfomances.

Tudo comprado, fomos confeccionar. Primeiro escrevemos Urano em glitter em uma clássica blusa branca Hering. Lindo, achei! Combinamos com um short verde que tinha. Pintamos as bolinhas de isopor e purpurinamos, é claro, com purpurina verde. Elas seriam alguns dos meus satélites. Mas, como colocar esses satélites flutuando na minha órbita?

Mamãe sabia dos truques. Pegou um capacete verde de plástico tipo militar dos anos 1940 e fez alguns pequenos cortes, colocou o arame por dentro e na outra ponta do arame, como se antenas, as bolinhas. Pronto, eu carregava os satélites verdes purpurinados na minha cabeça. Perfeito!

Chegando na escola, encontrei os outros alunos que também fariam parte da apresentação. Julião meu querido amigo na época seria o sol. Estava ótimo, com blusão grande bem solar. A minha amiga desde sempre, Lotus, estava com um vestido azul, ela era Netuno. E foram chegando os planetas. Todo muito achando muito criativa a minha produção.

Bruno tinha uma namorada na época. Vamos chamá-la de Patrícia. Patrícia era linda! Tinha longos cabelos aloirados, as melhoras roupas e era uma doçura. Extremamente irritante. Não éramos amigas, mas nunca me fez mal e nem eu para ela. Mas enfim, ela namorava com o meu amor. Neste dia ela seria Saturno.

Quando todos estavam lá se preparando para apresentação, se posicionado no sistema solar feito de giz no chão, estávamos esperando Saturno chegar para começar. Assim que Patrícia entrou na sala de aula foi um vira cabeça, um “ohh” em uníssono, que nunca irei esquecer. Patrícia estava de collant (tradução: maiô nos anos 1980) amarelo mostarda e sua saia era uma espécie de crinolina da Era Vitoriana, representando os anéis de Saturno. E os satélites? Era bolinhas purpurinadas de amarelo presas ao um arame que por sua vez eram presas à uma linda e delicada tiara.

Lá estava eu. Capacete militar com dois arames enfiados e segurando as bolinhas verdes. Magrinha, esquisitinha, feinha mesmo. Patrícia estava lá com seus cabelos esvoaçantes, tiara, saia, collant. Linda.

Acho que nunca me senti tão mal, com tanta inveja. Tive tanta inveja e me senti tão para baixo que na hora da minha fala eu confundi todo o meu texto. Fui rodopiar no sistema solar e quase caí. Difícil engolir. Só imaginava o quanto o Bruno estava orgulhoso da namorada, do Saturno iluminado.

Acabou apresentação. Acabou o meu mundo. Queria ir embora, queria sair dali. Demorou um tempo até nos despedirmos de todos e tudo mais e quando estávamos caminhando para a saída da escola, eis que surge o pai da Patrícia correndo com ela no colo. Seu collant amarelo era vermelho. Seu rosto era vermelho, seus anéis de Saturno também. Ao ver melhor aquela cena, vi que faltavam 2 dentes da frente e aquele vermelho todo era sangue, muito sangue. Ela havia caído de uma escada ao sair da escola e acredito que por conta da saia, se embolou ainda mais e bateu o rosto, quebrando 2 dentinhos.

Culpa. Muita culpa. Tinha certeza que a minha inveja e raiva da concorrente estar mais linda do que nunca era a razão do seu acidente. Ela logo depois saiu da escola e eu nunca tive a oportunidade de dizer, me desculpe.


segunda-feira, 27 de julho de 2020

Habitando o Presente

Quando a minha mentora de ideias, expressões artísticas e afins, Daniela Avellar, me pediu para escrever sobre habitar o presente, o primeiro estalo que me deu foi em decifrar e ir mais a fundo no assunto e assim recorrer à etimologia das duas palavras. Sim, sou dessas de querer escavacar as informações. Um lado de detetive que sempre me acompanha.

Habitar vem do latim habitare e significa “viver em, morar”, relacionado a habere, “possuir, ter, manter”. E no dicionário habitar é ter a sua residência em, ou seja, morar, viver. E o mais curioso: estar presente em.
presente vem do latim praesentia, que significa alguma coisa que está perto, ao alcance de alguém. Em termos gramaticais, o presente é um tempo verbal que indica que a ação acontece no momento em que se fala.
Habitar o presente ou simplesmente estar presente no momento. Que tarefa árdua nesta realidade digital e rápida em que vivemos. Como possuir o presente por inteiro, 100% se temos à nossa disposição um milhão e quinhentos mil informações para consumirmos todas ao mesmo tempo?


Alguns anos atrás durante um curso na School of Metaphysics aqui em Indianapolis, tínhamos que cumprir duas tarefas para ajudar a nos concentramos em apenas um ato a cada momento. Justamente o ato de habitar o presente. Eram elas: lavar a louça e prestar atenção no barulho da água, nas cores da espuma do detergente, da gordura difícil de sair da panela. Isso sem música, sem conversa paralela ou sem pensar no que fará em seguida. A concentração é total na tarefa.
O outro exercício, esse na minha opinião extremamente difícil, é acender uma vela e se concentrar na sua chama por no mínimo 5 minutos. Mesmo esquema: Isso sem música, sem conversa paralela ou sem pensar no que fará em seguida. A concentração é na chama, na cor, no barulho que estala da vela.
Sim, muito, muito difícil.
Se você habita o presente em que vivemos com as tais um milhão e quinhentos mil distrações disponíveis essas duas simples tarefas são um desespero. Posso escutar uma musiquinha no fundo? Não! Ah um podcastzinho zen? Nem pensar!
O intuito é justamente trazer a mente para o momento presente. Segundo filosofias orientais, quando a nossa mente está no futuro ficamos ansiosos. Não é de se espantar o alto índice de ansiedade em que o mundo está vivenciando. A mente entra no estágio acelerado de possíveis acontecimentos futuros, medo do tal do “e se”.
No livro “The Power of Now” (O Poder do Agora) do autor Eckhart Tolle diz que “... a condição psicológica do medo está divorciada de qualquer perigo imediato concreto e verdadeiro. Ele vem de várias formas: desconforto, preocupação, ansiedade, nervosismo, tensão, pavor, fobia e assim por diante. Esse tipo de medo psicológico é sempre algo que pode acontecer, não algo que está acontecendo agora.”. E assim a nossa mente fica lá, no daqui a 10 minutos, 1 ano, 5 anos..., mas e o presente? Não temos tempo para habitá-lo ou não criamos tempo para habitá-lo.
Nestes exercícios propostos pelo curso, o intuito era justamente isso. Criar o seu tempo de habitar o presente. E isso basicamente significa fazer uma coisa só a cada momento. Ou melhor, focar a sua atenção para uma tarefa a cada momento. Sendo uma pessoa multitarefa como eu, habitar o presente é sim trabalhoso, mas vou te dizer que é possível. E dá-lhe olhar para a chama da vela.