Quando comecei a escutar todo o burburinho sobre o documentário “Dilemas da Rede” (Social Dilema) e de repente vi amigos dando adeus a redes sociais como Instagram e justificando sua saída por conta do que foi exposto no filme, resolvi assisti-lo também. Já tinha visto que o documentário tinha entrado na Netflix e mais ou menos me chamou a atenção, porém tinha ficado apenas como um ticado para a minha lista de futuros. Explico os porquês.
Tem um troço que tenho certo pavor. Teoria da conspiração.
Morando aqui nos EUA sei que a maioria dos americanos acreditam nas mais
diversas teorias da conspiração. Variadas pesquisas já mostraram números que
dizem por exemplo, 1/3 da população americana acredita em alguma teoria doida sobre
o Coronavírus. Já vi pesquisas dizendo que mais de 70% dos americanos acredita
em alguma teoria que vai desde que o homem não pisou na lua, Elvis não morreu
ou que a Terra é plana. Ui! Esse lance de teoria me irrita tanto, mas tanto que
tudo que soa à conspiração eu não quero nem ver ou ouvir. Dá coceira!
A segunda barreira de não querer assistir o “Dilemas da Rede” foi com relação às próprias redes sociais. Essa pessoa que vos escreve começou nas redes sociais nos tempos de Orkut. Não passei pelo MySpace e não tive muito contato com Flickr ou Twitter, apesar de que flertei por essas bandas rapidamente. Desde o começo do meu contato com as redes sociais, sempre achei fascinante uma coisa: o poder da comunicação e como poder se expressar de alguma forma para várias pessoas de maneira mais aberta, diferente do e-mail.
Essa paixão, se posso descrever assim, por essas plataformas
foi crescendo e acabei abrindo uma agência de conteúdo online nos primórdios do
Facebook, quando marcas começaram a usar a rede social para promover seus
produtos e serviços, mesmo ainda sem a existência das páginas profissionais na
plataforma. Explorar essas ferramentas e o que elas podiam nos dar de volta com
relação à estrutura sempre foi fascinante. E a cada ano, ou até mesmo a cada
mês, elas se atualizavam, inventam novos recursos. Quando o Facebook ficava
meio lento e surgiam alguns bugs eu já dizia para a minha equipe “lá vem mudança
do Mark”.
Quando falo assim, de forma tão poética e nostálgica, não estou
sendo inocente com relação às redes sociais e seu lado comercial. Não mesmo! Sei
que para uma plataforma sobreviver como um produto, é necessário dinheiro. Óbvio!
Mas penso também que um pequeno negócio que não tem rios de orçamento para investir
em um site ou plataformas de CRM etc., pode abrir uma conta no Instagram para
vender seus produtos. Isso inclui. Um jovem morador de favela pode ter um espaço
para vociferar o que está acontecendo dentro da sua comunidade e criar seu
próprio meio de comunicação. Isso inclui. Você pode criar um movimento que começa
local e ganha proporções globais, ajudando outras pessoas. Isso inclui.
Então, o que me incomodava – isso antes de assistir o
documentário – era pensar nessa martirização das redes sociais como sendo apenas um celeiro de inveja, competividade, depressão, ansiedade, brigas
e rachas. Incluindo neste bolo uma manipulação da sua mente, um impulsionamento
exagerado do consumo, a criação de bolhas de um só pensamento. Claro que tudo
isso existe sim dentro das redes sociais. E existe um processo que culmina no “compre
meu produto mesmo você não precisando”. Negar isso tudo é inocência, de fato! Mas
o documentário que entrevista vários personagens-chave no processo de criação
de tecnologias viciantes exagera neste lado sombrio.
Concordo que o uso de redes sociais por crianças e pré-adolescentes
não é legal. O mesmo que muita TV e telas no geral. Concordo que o mundo
fantástico de todos aparentando serem felizes o tempo todo, que o uso de filtros
para afinar o rosto, melhorar a pele e tirar olheiras é too much e pode gerar
sentimentos de inferioridade e inadequação. Que a manipulação de imagens e criação
de fake news é um problemão. Concordo que deve ter um melhor monitoramento e
leis que ajudem a reduzir essas questões e que tudo isso seja debatido. Mas
isso revela como somos como sociedade. O nosso lado sombrio da força. E cá entre
nós, sempre tivemos um pé lá e um pé cá. “Onde vamos parar?” muitos dizem. Não
acredito que estamos piorando. Volte para a Idade Média e veja o quanto
evoluímos como sociedade. Tudo bem, não precisa ir tão longe. Volte aos anos
1950 e veja como evoluímos.
Não vejo as redes sociais como apenas ferramentas demoníacas
ávidas a nos fazerem escravos e meras mercadorias de troca. Não mesmo. Pode ser
um lado meio Pollyanna meu? Pode ser. Mas acredito que essas avaliações sobre
as redes sociais deveriam nos fazer refletir mais sobre as nossas conquistas
como sociedade e aí sim, avaliar o que podemos fazer para melhorar ainda mais,
combater o que está em desequilíbrio e sim, viver mais a vida no modo geral,
fora da tela e também porque não, postar vídeos de gatos fofos, compartilhar aquela
torta maravilhosa que você comeu ou uma selfie linda que só você consegue tirar
do seu melhor ângulo. Isso tudo junto e misturado, sem dilemas. Curtiu?
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