segunda-feira, 27 de julho de 2020

Habitando o Presente

Quando a minha mentora de ideias, expressões artísticas e afins, Daniela Avellar, me pediu para escrever sobre habitar o presente, o primeiro estalo que me deu foi em decifrar e ir mais a fundo no assunto e assim recorrer à etimologia das duas palavras. Sim, sou dessas de querer escavacar as informações. Um lado de detetive que sempre me acompanha.

Habitar vem do latim habitare e significa “viver em, morar”, relacionado a habere, “possuir, ter, manter”. E no dicionário habitar é ter a sua residência em, ou seja, morar, viver. E o mais curioso: estar presente em.
presente vem do latim praesentia, que significa alguma coisa que está perto, ao alcance de alguém. Em termos gramaticais, o presente é um tempo verbal que indica que a ação acontece no momento em que se fala.
Habitar o presente ou simplesmente estar presente no momento. Que tarefa árdua nesta realidade digital e rápida em que vivemos. Como possuir o presente por inteiro, 100% se temos à nossa disposição um milhão e quinhentos mil informações para consumirmos todas ao mesmo tempo?


Alguns anos atrás durante um curso na School of Metaphysics aqui em Indianapolis, tínhamos que cumprir duas tarefas para ajudar a nos concentramos em apenas um ato a cada momento. Justamente o ato de habitar o presente. Eram elas: lavar a louça e prestar atenção no barulho da água, nas cores da espuma do detergente, da gordura difícil de sair da panela. Isso sem música, sem conversa paralela ou sem pensar no que fará em seguida. A concentração é total na tarefa.
O outro exercício, esse na minha opinião extremamente difícil, é acender uma vela e se concentrar na sua chama por no mínimo 5 minutos. Mesmo esquema: Isso sem música, sem conversa paralela ou sem pensar no que fará em seguida. A concentração é na chama, na cor, no barulho que estala da vela.
Sim, muito, muito difícil.
Se você habita o presente em que vivemos com as tais um milhão e quinhentos mil distrações disponíveis essas duas simples tarefas são um desespero. Posso escutar uma musiquinha no fundo? Não! Ah um podcastzinho zen? Nem pensar!
O intuito é justamente trazer a mente para o momento presente. Segundo filosofias orientais, quando a nossa mente está no futuro ficamos ansiosos. Não é de se espantar o alto índice de ansiedade em que o mundo está vivenciando. A mente entra no estágio acelerado de possíveis acontecimentos futuros, medo do tal do “e se”.
No livro “The Power of Now” (O Poder do Agora) do autor Eckhart Tolle diz que “... a condição psicológica do medo está divorciada de qualquer perigo imediato concreto e verdadeiro. Ele vem de várias formas: desconforto, preocupação, ansiedade, nervosismo, tensão, pavor, fobia e assim por diante. Esse tipo de medo psicológico é sempre algo que pode acontecer, não algo que está acontecendo agora.”. E assim a nossa mente fica lá, no daqui a 10 minutos, 1 ano, 5 anos..., mas e o presente? Não temos tempo para habitá-lo ou não criamos tempo para habitá-lo.
Nestes exercícios propostos pelo curso, o intuito era justamente isso. Criar o seu tempo de habitar o presente. E isso basicamente significa fazer uma coisa só a cada momento. Ou melhor, focar a sua atenção para uma tarefa a cada momento. Sendo uma pessoa multitarefa como eu, habitar o presente é sim trabalhoso, mas vou te dizer que é possível. E dá-lhe olhar para a chama da vela.

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