sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Pai

 

Ainda acho muito estranho escrever algo sobre meu amado pai que se foi em 2015. Até porque tenho constantes sonhos em que ele aparece vivo e sempre tem alguém que chega e fala “ué, mas ele está vivo?” e assim aparecem diversas versões para explicar o porquê ele está vivo. “Não, ele não morreu!”, dizem uns. “Sim, ele morreu, mas conseguiu voltar a viver”. Apesar de serem sonhos, sempre acordo com a sensação de que na verdade ele está aqui, sua presença está em cada lembrança, cada memória, cada história que alguém conta.

Hoje é o seu aniversário e quis deixar registrado este texto para ele em forma de comemoração da sua vida que ainda perpetua entre nós. “Deixa de bobagem, para quê celebração para mim?”, afinal de contas, meu pai não gostava de comemorar seu aniversário. Mas no fundo, no fundo, a gente sempre comemorava e ele, amava! Então pai, estou aqui celebrando com você mesmo sabendo que você nem ligaria para isso tudo, mas que depois estaria com um sorriso de orelha a orelha, dizendo “não precisava”.

Papai sempre foi o pai “jovem”, não por conta da idade, mas tinha a alma jovem. Meus amigos sempre o achavam divertido, engraçado, diferente, músico né? Já tive aquela fase estranha em que tinha vergonha por ele ser diferente de outros pais, e logo depois dessa fase passar, eu que sentia vergonha de ter pensado assim, afinal, era o meu pai que era bacana, e os outros? Ah outros eram muito sérios.

Foi meu pai, apesar de ele dizer como sempre “que besteira...”, que me ensinou a correr atrás dos meus sonhos, de trabalhar duro, de ser sincera, honesta e acima de tudo, fazer o que se gosta. Ele me deu toques importantes que na verdade nem se tocou que foram tão importantes, tudo sempre por conta do seu jeito suave e às vezes em contrapartida, meio ríspido, mas que era no final das contas, pura doçura.



Foi ele também que me ensinou a amar música, arte, cultura de um modo geral. Até novela, a gente discutia como assunto sério. Trocávamos ideias de filmes, seriados, livros e claro, ele me enchia de vídeos e coisas engraçadas e curiosas da internet. Foi ele que me disse uns anos atrás que na hora na turbulência durante o voo era bom para dormir, e depois de mais de 30 anos com pânico de avião, eu adoro uma sacudida para dormir o voo inteiro.

Mas acima de tudo, meu pai me ensinou a ter humor, a gostar de refletir sobre as coisas da vida, profundas ou simplesmente coisas do dia a dia e o melhor de tudo, a gosta de escrever, que acabou virando minha profissão por tanto tempo. A única coisa que não consegui aprender 100% foi a ser mais leve, a relevar as coisas um pouco mais. Tudo bem que às vezes ele tinha também um lado meio difícil, duro, mas como disse, foi adoçando com os anos e que no final tudo era justiçado com “ah que besteira, esquece isso”.


Pai, a saudade aperta, dói, mas tive a sorte de ter sido escolhida para ser sua filha, a sorte de ganhar um apelido criado por você, a sorte de ter recebido seu abraço, seu apoio, a sua ajuda em diversos momentos da minha vida. E obrigada por ter vindo me visitar nos Estados Unidos quase 2 meses antes de você partir, quando a gente olha para trás e vê esses sinais, mal acredita como a vida pode ser tão surpreendente. Obrigada, obrigada, obrigada! Te amo para sempre, sua Pipa!

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